"Lembranças que não são minhas."

      Há 18 anos uma pequena borboleta passou por essa terra trazendo com ela alegria, amor, carinho...
      Trouxe também grandes e importantes notícias.
     
      Muitas pessoas já ouviram falar nessa história e, às vezes, me pergunto se todas elas realmente acreditam nela. Principalmente hoje em dia, pois é bem raro encontrar alguém que tenha fé no Criador e compreender sua vontade.

     A história a seguir não é invenção minha. (não nego que já houve tempos em que eu queria que fosse)
   
    E antes de tudo, gostaria de agradecer a professora Grazielle que lançou esse desafio a turma. Sem essa tarefa eu acredito que jamais pensaria na possibilidade de contar com tantos detalhes a história dessa linda borboleta.

     Tudo tem um início, meio e fim.
     Diferente da maioria das pessoas, minha história começou bem antes do início de minha formação neste mundo.

     Houve um alerta.
     Alguém avisou que eu estaria chegando.
     Seu nome? Graziele. Era uma linda criança, cheia de vida e encantadora.
     Um dia, aproximou-se de minha mãe com a noticia: “Você vai ter uma filha!”
     E se você pensa que minha mãe aceitou isso fácil, se enganou. Ela se recusou a aceitar até ter a confirmação óbvia. Até contou para a filha que não havia a possibilidade de estar grávida.

     E enquanto isso Grazi sonhava com sua irmãzinha. Disse que seria uma menina e exigiu que o nome deveria ser Gabrielle com dois Ls, pois achava assim mais bonito e até espalhou para a vizinhança a noticia emocionante. Enquanto isso sua mãe ignorava a possibilidade e para ela parar de falar sobre o assunto concordou que o nome seria Gabrielle, já que Grazi afirmava que a mãe teria uma filha.

     E prosseguiu assim até começar com perguntas estranhas sobre morte, do tipo: O que acontecia com o corpo depois que morríamos? Como é que era morrer?
     Ela continuou com essas perguntas até revelar mais uma noticia. Estava abraçada com sua mãe, ambas deitadas quando decidiu contar: Mãe, eu vou morrer.
     A mãe, obviamente se recusou a acreditar. E pediu que jamais dissesse aquilo novamente.
     Grazi foi paciente e nunca mais comentou sobre o caso.
     O tempo passou e a descoberta logo chegou: Grazi estava doente.
     Possuía Leucemia.
     A jovenzinha de 9 anos chamada de Graziele, que trouxe ao mundo duas importantes noticias, se foi depois de uma semana de internação. Uma semana. Não reclamou de dor, prosseguiu em seus últimos dias com seu sorriso estampado no rosto e ativa.
     E dois dias antes de partir, tornou a afirmar sorrindo que mãe estava grávida.
     Mas ela se foi.

     Bom... oito meses depois nasceu Gabrielle, ou melhor dizendo... eu.
     No dia 16 de novembro 1997, no HCT, no centro cirurgico que realizava uma cesariana, enquanto a doutora começava a retirar o bebezinho de dentro da mãe mais linda do mundo, surpreendeu-se. O bebê já chorava. Pois é. Ainda dentro da barriga de sua mãe, o bebê já estava berrando desesperado.
     Sim, era eu.
     Iriam me arrancar de dentro da minha mãe, acredita? Eu queria lutar, claro! Aquela maluca ia me separar da minha mãe.

     E o mais curioso?
     Até meus nove anos era idêntica a Grazi.
     Tanto que, quando pequena e sem consciência de minhas ações jurava de pé junto que nas fotos em que ela aparecia era eu. Chegava a chorar de raiva tentando discutir com minha mãe. Até que aos poucos, fui amadurecendo e aceitando a verdade.
     Era e sou muito confundida com ela. As vezes alguns parentes me chamam de Gra...bi. Dói mais neles do que em mim.
     É uma honra ser comparada com alguém tão especial e importante quanto ela.
     O ruim é que não tive a chance de conhecê-la... Mas sinto uma conexão infinita com ela e acredito que ela me conhecia melhor até que todos. E sei que ela me amou, mesmo que ninguém reconhecesse minha existência.
     Se ela pudesse ter dito algo para nós enquanto eu nascia, acredito que ela teria rido um bom tempo e depois dito: Não disse que ela viria?

     Eu não a conheci. Mas eu a amo e sou muito grata, não só porque anunciou minha chegada... Mas porque ela tomou conta da minha mãe durante nove anos enquanto eu não chegava. E se existe uma única pessoa nesse mundo com quem eu divido minha mãe é ela. Até porque ela tem mais privilégios que eu.

     Se eu fiz alguém chorar, ou deixei alguém triste... peço desculpas.
     Não tive a intenção de contar algo triste, e sim algo lindo. Algo maior que a compreensão da ciência.
     O maior amor que possa existir.
     Maior até que o amor de mãe.
     Que amor é esse?
     O amor de Deus.

                                                                                               - Gabrielle Claro Martins
                                                                                                             (30/07/2014)